19
Out14
Visões numa madrugada inesquecível
José Guimarães
Quem me conhece pessoalmente sabe que gosto de correr. De vez em quando participo numa prova e, sempre que possível, vamos juntos: eu, a mãe, a miúda e o rapaz. Mesmo que só alguns corram.
Eu e a mãe corremos e gostamos. A miúda não corre, mas faz outras coisas que gosta. O rapaz já foi a umas poucas corridas. Parece que não gosta assim tanto. Mas quando vai aplica-se e surpreende-nos a todos.
Este fim de semana fui correr à serra da Lousã. Corrida difícil, em que passamos 1/3 do tempo a pensar se é desta que não conseguimos chegar ao fim, outro 1/3 a cerrar os dentes e a impulsionar o que resta do corpo para a frente e, o 1/3 que falta, a não pensar em absolutamente nada. Confiem em mim: as dores nos músculos e as bolhas nos pés, às tantas fazem-nos pensar se valerá mesmo a pena.
Agora imaginem-se no maior desafio das vossas vidas. Depois de 22 horas a correr estão quase a terminar. E no momento final em que se estão a "arrastar" para fazer as últimas centenas de metros, o que resta da parceria entre a vossa visão turva e o cérebro bem mais lento que o normal apercebe-se de uma multidão a celebrar na linha de chegada. "Sortudo de quem é recebido assim" - pensam. E na fração de segundo que se segue a este pensamento vêem uma figura familiar no meio dessa multidão. E depois outra. E depois ainda outra. Nesse momento já não se arrastam, aproximam-se. E a multidão transforma-se em caras todas elas conhecidas. Amigos e filhos dos amigos. Mas também a mãe, a miúda e o rapaz. Nesse momento vocês já não se aproximam, flutuam. E é a flutuar que todos nós corremos. Lado a lado, até ao fim. Já sem as dores angustiantes, que os beijos, abraços e sorrisos entretanto conseguiram dissipar. Porque é este o sentimento que nos eleva acima de qualquer dificuldade. Aquele que não se vê, nem se toca, mas se sente.
Eu e a mãe corremos e gostamos. A miúda não corre, mas faz outras coisas que gosta. O rapaz já foi a umas poucas corridas. Parece que não gosta assim tanto. Mas quando vai aplica-se e surpreende-nos a todos.
Este fim de semana fui correr à serra da Lousã. Corrida difícil, em que passamos 1/3 do tempo a pensar se é desta que não conseguimos chegar ao fim, outro 1/3 a cerrar os dentes e a impulsionar o que resta do corpo para a frente e, o 1/3 que falta, a não pensar em absolutamente nada. Confiem em mim: as dores nos músculos e as bolhas nos pés, às tantas fazem-nos pensar se valerá mesmo a pena.
Agora imaginem-se no maior desafio das vossas vidas. Depois de 22 horas a correr estão quase a terminar. E no momento final em que se estão a "arrastar" para fazer as últimas centenas de metros, o que resta da parceria entre a vossa visão turva e o cérebro bem mais lento que o normal apercebe-se de uma multidão a celebrar na linha de chegada. "Sortudo de quem é recebido assim" - pensam. E na fração de segundo que se segue a este pensamento vêem uma figura familiar no meio dessa multidão. E depois outra. E depois ainda outra. Nesse momento já não se arrastam, aproximam-se. E a multidão transforma-se em caras todas elas conhecidas. Amigos e filhos dos amigos. Mas também a mãe, a miúda e o rapaz. Nesse momento vocês já não se aproximam, flutuam. E é a flutuar que todos nós corremos. Lado a lado, até ao fim. Já sem as dores angustiantes, que os beijos, abraços e sorrisos entretanto conseguiram dissipar. Porque é este o sentimento que nos eleva acima de qualquer dificuldade. Aquele que não se vê, nem se toca, mas se sente.